Cauby Peixoto, cantor que hoje faria 90 anos, é símbolo eterno das paixões da era do rádio

Por Redação Achado Top em 10/02/2021 às 10:00:06
Produtor Thiago Marques Luiz tem sobras de discos de estúdio e gravações de shows que podem gerar álbuns póstumos do artista. ? MEMÓRIA – Uma das referências máximas de canto masculino no Brasil, Cauby Peixoto (10 de fevereiro de 1931 – 15 de maio de 2016) teve longeva trajetória profissional, trabalhando até sair de cena, há cinco anos.

Foram 85 anos de vida e 67 de carreira, se levado em conta que o cantor – nascido na cidade fluminense de Niterói (RJ) – entrou em cena em 1949, aos 18 anos, como calouro de programa da carioca Rádio Tupi.

Foram também 65 anos de carreira fonográfica, iniciada em fevereiro de 1951 com o disco de 78 rotações que apresentou o samba Saia branca (Geraldo Medeiros, 1951) e a marcha Ai! Que carestia (Victor Somón e Liz Monteiro, 1951) na aveludada voz de barítono, de volume amplificado pelos arroubos do artista na interpretação do repertório abrasivo.

Antítese do cantor cool, Cauby pecou por excessos, mas foi por essa abundância vocal e cênica que o intérprete criou escola de canto no Brasil. E é esse excesso de voz e talento que mantém Cauby – que faria 90 anos nesta quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021 – como símbolo eterno das paixões da era do rádio.

Fosse no paulistano Bar Brahma, onde cumpriu longa temporada em fase crepuscular da carreira, fosse nas grandes casas de show, Cauby Peixoto pisava em qualquer chão – dentro ou fora de cena – como se estivesse no lendário palco do auditório da Rádio Nacional, onde reinou na áurea década de 1950.

Eternizado em 61 singles de 78 rpm (editados entre 1951 e 1963) e em 49 álbuns (lançados entre 1955 e 2017), o canto de Cauby Peixoto ainda pode ecoar em futuros discos póstumos. Thiago Marques Luiz – produtor que cuidou com zelo da carreira do cantor na última década de vida do artista – tem no baú inéditas sobras de álbuns e também gravações de shows.

Assim que forem resolvidas questões jurídicas relativas à herança de Cauby, este material pode ser lançado oficialmente para júbilo dos seguidores desse cantor que, com muitos brilhos, sempre se vestiu.

Cauby Peixoto

Marco Máximo / Divulgação

Cauby personificou o tipo de cantor que pode ser caracterizado como estrela. Sim, Cauby Peixoto foi uma estrela. Uma estrela solitária, como deu a pista em título de álbum de 1982.

Como tal, o cantor viveu e se portou em público, omitindo a homossexualidade nunca assumida, fazendo uso de perucas e vestindo figurinos luminosos que lhe davam a ilusão de ser ainda o astro que tinha as roupas rasgadas nos arredores da Rádio Nacional por seguidoras alucinadas.

Tudo isso fazia parte do show de Cauby. E, quando marketing era palavra ainda inexistente nos dicionários, o empresário Edson Collaço Veras (1914 – 2005), conhecido como Di Veras, criou artimanhas para manter Cauby em evidência no competitivo universo da era do rádio.

Mito antes mesmo de morrer, Cauby Peixoto encarnou o cantor que nunca dependeu de repertório para ser idolatrado. Sim, houve músicas emblemáticas na trajetória do artista, sobretudo Conceição (Jair Amorim e Valdemar de Abreu, 1956), Nono mandamento (René Bittencourt e Raul Sampaio, 1958) – sambas-canção típicos do cancioneiro melodramático dos anos 1950 – e, claro, Bastidores (Chico Buarque, 1980), composição da qual Cauby se apropriou com tamanha paixão que se tornou irrelevante o fato de Chico ter feito a música para a irmã, Cristina Buarque.

Contudo, Cauby era querido mais pela persona artística do que pelo repertório a que dava voz – repertório, aliás, nem sempre condizente com a qualidade do canto do intérprete.

Simplesmente por ser Cauby, cantor que dispensava apresentações, o artista driblou o esnobismo dos que lhe consideraram ultrapassado com o advento da Bossa Nova e encarou com altivez o relativo ostracismo dos anos 1960 e 1970 – década em que gravou três ignorados bons álbuns – até renascer para o público da MPB em 1979 com o convite inusitado de Elis Regina (1945 – 1982) para dividir com ela as lágrimas, o sangue e o veneno do Bolero de Satã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1976) em gravação para o álbum Elis, Essa mulher (1979).

A partir de então, Cauby Peixoto renasceu para a eternidade. Outros outubros outonais viriam na década de 1990, mas, aos poucos, Cauby foi se tornando mito. Lenda viva da era do rádio, às cujas paixões permanecerá eternamente associado.

Fonte: G1

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